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CUPUAÇU - USOS E POTENCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL NA AMAZÔNIA

O TodaFruta agradece a colaboração de Paulo Emílio Kaminski é pesquisador da Embrapa Roraima, na área de conservação de recursos genéticos e frutíferas.
Contato: sac@cpafrr.embrapa.br ou siglia@cpafrr.embrapa.br

O cupuaçu (Theobroma grandiflorum) é uma espécie nativa da Amazônia e pertence à mesma família do cacau (Theobroma cacau), espécie da qual se obtém o chocolate. Ao contrário do cacau que é cultivado em diversas partes do mundo, o cupuaçu está em processo de domesticação e seu cultivo é restrito aos estados da região norte e alguns países que fazem parte da Amazônia.

E, em decorrência desse processo recente, pode ser encontrado em estado silvestre, no interior das florestas, em pomares caseiros e em plantios comerciais. Desenvolve-se bem em solos pobres, pode ser cultivado em plantios homogêneos ou em consórcio com outras espécies, em sistemas agroflorestais.

A polpa do fruto, com aroma e sabor característicos, é o principal produto obtido, sendo largamente utilizada no preparo bombons, musses, sorvetes, sucos e refrescos. Apesar de ser o produto mais valorizado, não é o único. Das sementes podem-se obter o cupulate e a manteiga de cupuaçu. O cupulate é um produto semelhante ao chocolate, porém com menor concentração do estimulante cafeína; a manteiga é similar à de cacau, com a vantagem de ser obtida por um processo mais econômico, e pode ser empregada na produção de cupulate em tabletes e na industria de cosmético.

Pesquisas recentes têm demonstrado a possibilidade de obtenção de novos produtos, ampliando o leque dos já existentes e contribuindo para o aproveitamento mais eficiente do fruto do cupuaçu. Das sementes processadas pode-se produzir uma bebida com teor de proteína semelhante ao de um achocolatado formulado com leite de vaca. Esta bebida apresenta a vantagem de possuir um custo de produção inferior ao do achocolatado convencional e poder ser comercializada em forma de pó. Os benefícios dessas pesquisas vão além do lançamento no mercado de novos produtos e se estendem por toda a cadeia produtiva: o produtor terá mais uma fonte de renda com a comercialização das sementes que, atualmente, são descartadas; o consumidor contará com uma fonte de proteína de alta qualidade a preços acessíveis; os programas oficiais de combate à fome e à miséria e da merenda escolar poderão ofertar uma dieta saudável e diversificada; e os vegetarianos, que normalmente possuem poucas opções de fontes de proteínas de origem vegetal, contarão com alternativas para uma alimentação equilibrada.

A casca de cupuaçu, que normalmente é descartada e usada como adubo, pode ser aplicada na geração de energia. Um projeto que utiliza a casca como fonte de biomassa para produzir energia está em fase de teste em uma comunidade do Amazonas. Ao ser submetida a um processo de queima incompleta, produz um gás, ao invés de fumaça. Este gás, ao ser misturado a motores movido a diesel, pode reduzir o consumo de diesel em até 80%. A energia gerada é utilizada para alimentar uma agroindústria de processamento do fruto que, antes, era vendido in natura. Os custos ainda são superiores aos geradores que usam apenas o diesel como combustível, mas compensa por utilizar matéria prima em abundância, proveniente da atividade econômica da região, e pelos benefícios sociais e ambientais gerados.

Os exemplos relacionados anteriormente servem para ilustrar o potencial de aproveitamento, a versatilidade de produtos e usos alternativos que o cupuaçu apresenta. Estas características, aliadas ao sabor forte e agradável e à facilidade de industrialização do fruto têm contribuído para a difusão do consumo, ampliação e abertura de novos mercados para uma espécie nativa da Amazônia. A exemplo do guaraná, da castanha e do açaí, que são reconhecidos como produtos típicos da Amazônia, consumidos em todo o Brasil e exportados para diversos países, o cupuaçu tem o potencial de alcançar status semelhante.

No entanto, a realização desse potencial só será possível com o avanço das pesquisas sobre a espécie, a transferência dos resultados e capacitação do produtor, e a adoção de políticas que estimulem o cultivo de cupuaçu. Através da oferta de materiais mais produtivos e resistentes a doenças, principalmente à vassoura-de-bruxa; do plantio e manejo seguindo as recomendações para a cultura; e da existência de uma infraestrutura adequada para o beneficiamento dos frutos pode-se ampliar a área cultivada, aumentar a produção, colocar no mercado produtos diferenciados, capazes de atender a demanda por produtos da Amazônia.

Existem ainda os benefícios sociais e ambientais associados e, entre esses, podem ser citados: a geração de empregos e utilização da mão-de-obra familiar; a geração de riqueza e desenvolvimento do meio rural; e a exploração sustentável da biodiversidade da Amazônia.

Data Edição: 20/01/2006
Fonte: Cultivar
Raphael Chespkassoff

Raphael Chespkassoff

Publicitário, fotógrafo e amante da natureza. A ideia deste blog é realizar a troca de experiências e informações.

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