 Paulo Henrique Soares da Silva  - Pesquisador da Embrapa Meio-Norte
                    Paulo Henrique Soares da Silva  - Pesquisador da Embrapa Meio-Norte O caju constitui um produto de elevada  importância sócio econômica. No Brasil, a cultura concentra-se na Região  Nordeste, sendo os Estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte os  maiores produtores.
Seu valor econômico se revela em face  das múltiplas opções de proveitamento como a amêndoa da castanha, o  líquido da casca da castanha, a película das amêndoas, a casca da  castanha e o pedúnculo. No agronegócio do caju, encontram-se inseridas  diversas atividades econômicas que vão desde a produção agrícola,  passando pelo processamento da castanha e do pedúnculo, pelo segmento  das embalagens, transportes e armazenamento, movimentando nos mercados  interno e externo grande volume de recursos. Até os anos 70, o cajueiro  era considerado uma planta resistente às pragas. Com o incremento da  área plantada e o adensamento das plantas, essa cultura mostrou-se  suscetível ao ataque de insetos e ácaros, alguns causando danos  econômicos, como é o caso da mosca-branca Aleurodicus cocois (Curtis,  1846) (Hemiptera: Aleyrodidae).
A ocorrência desse inseto foi registrada  em 1968 nos Estados de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Rio de Janeiro,  Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do  Norte.
No Ceará, foi considerada de importância  econômica em 1977 e no Piauí em 1978. A partir dessa época, alguns  estudos foram feitos no sentido de controlar essa praga, principalmente  aqueles dirigidos ao controle químico que apontaram alguns inseticidas  como mevinphos, diazinon, malathion, methidathion, fenthion,  endossulfan, parathion metílico, dichlorvos, thiometon e o phosphamidon  com eficiência acima de 90% no controle de adultos e ninfas da  mosca-branca.
Após esse período de pesquisas, não se verificaram novos estudos sobre o  controle químico da mosca-branca, fato esse que se denota pela ausência  de literatura sobre o assunto. Assim, esses produtos passaram a ser  recomendados e utilizados para o seu controle.
Por outro lado, não se tem conhecimento  se esses inseticidas foram registrados para a cultura e para a  mosca-branca, norma legal para a prescrição de um produto no receituário  agronômico, de acordo com o Artigo 64 do Decreto Lei N° 4.074 de 4 de  janeiro de 2002 que regulamenta a Lei N° 7.802, de 11 de julho de 1989,  que dispõe, dentre outras providências, sobre a utilização dos  agrotóxicos.
Atualmente os princípios ativos  registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA)  para o controle de pragas no cajueiro são a deltametrina, a  fenitrotiona, o triclorfon e o enxofre.
A importância do cultivo do cajueiro no  Nordeste brasileiro, além da produção da castanha, pseudofrutos e  derivados, está também na criação de abelhas e produção do mel,  principalmente de Apis mellifera L. que está intimamente associada à  época de floração da cultura, essencialmente na apicultura migratória.
Assim, a problemática do controle  químico da mosca branca, bem como de outras pragas do cajueiro, está  ligada à criação de abelhas e à produção e exportação do mel, uma vez  que os produtos registrados no MAPA, para controle de pragas no cajueiro  não estão registrados para o controle da mosca-branca, e todos são  altamente tóxicos para abelhas.
Os inseticidas registrados para o  cajueiro afetam diretamente a população das abelhas e, por outro lado,  podem afetar também as exportações de mel, caso sejam encontrados  resíduos desses produtos. Nesse sentido, o controle de pragas do  cajueiro, entre elas a mosca-branca, deve ser feito com muito critério e  conhecimento dos riscos ao meio ambiente, em particular com as abelhas. 
Com o objetivo de controlar a  mosca-branca-do-cajueiro sem afetar as abelhas, foi testada na Embrapa  Meio-Norte a eficiência de óleos vegetais no controle de ninfas e ovos  da mosca-branca-do-cajueiro e seus efeitos em operárias adultas de  abelhas A. mellifera.
Os trabalhos constaram de dois ensaios: o  primeiro, em campo, para testar a eficiência dos óleos vegetais como  ovicida e no controle de ninfas, e o segundo foi desenvolvido em  laboratório, onde se verificou a ação dos óleos aplicados para controle  de ovos e ninfas da mosca-branca na mortalidade de operárias adultas de  abelhas A. mellifera. Os testes foram realizados com óleos de soja, nim e  mamona na concentração de 2%.
Os óleos vegetais apresentaram  eficiência no controle de ovos da mosca-branca que variaram de 70,7 % a  45,9 % entre o segundo e o vigésimo dia após a aplicação e de 92,5% a  54,9% no controle das ninfas nesse mesmo período após a aplicação. As  abelhas não foram afetadas pela aplicação desses óleos.
Com base nesses resultados, os  produtores de caju dispõem de um produto natural e de baixo custo para o  controle da mosca-branca. Uma pequena dificuldade na aplicação do óleo  vegetal seria a insolubilidade do óleo em água. Para que isso  acontecesse seria necessário a adição de um produto emulsificante na  solução para promover a mistura do óleo com a água. Isso pode ser  resolvido com a adição de 2% de detergente neutro ao óleo e forte  agitação quando adicionar água na mistura óleo/detergente.
No comércio já estão disponíveis várias  marcas de óleos vegetais apropriados para serem aplicados como  adjuvantes e para controle de algumas pragas como cochonilhas em citros  etc. Esses óleos já se encontram misturados com emulsificantes e prontos  para serem adicionados à água sem nenhum problema de insolubilidade, no  entanto, falta o registro no MAPA para que possam ser empregados no  controle da mosca-branca em cajueiro, fato este que esperamos seja  resolvido para a próxima safra de caju que se iniciará em junho do  próximo ano.
    
Fonte: Embrapa Meio Norte
 
 
 
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